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É fácil falar de forças de caráter (forças pessoais) quando tudo vai bem e nossa saúde, emprego, bem-estar e segurança, inclusive daqueles que amamos, não estão em risco.

É fácil falar em resiliência quando os desafios são aqueles do cotidiano.

Porém, falar em forças e resiliência em momentos de quebra de estruturas e paradigmas, é tão difícil quanto entender onde tudo isto vai nos levar.

O coronavirus, com impacto sem precedentes no cotidiano, na saúde física e financeira de pessoas, organizações e países, é um movimento desruptivo, que altera sistemas e estruturas. Ele afetará, a curto ou médio prazo, os que estão empregados, os autônomos, empresários, desempregados, dona de casa… Enfim, é um processo democrátivo!

É portanto, momento de olharmos para nossas forças de caráter e selecionarmos aquelas que nos permitem adquirir resiliência e capacidade de enfrentamento para passar por esta “onda” sem maiores danos.

O uso consciente de nossas forças pode ser nosso diferencial para sobreviver e atravessar essa turbulência. Esta é a reflexão que proponho neste texto.

Bom, pelo menos a grande maioria de nós terá muito tempo nos próximos dias, para refletir sobre isso!

O que move o barco a vela e o faz navegar é a pressão do vento. Quando viaja na direção do vento, o veleiro é submetido à simples pressão do vento em sua vela e essa pressão impele a embarcação para frente.

Além do vento, outros itens são importantes para a navegação ocorrer com sucesso.

As velas devem ser manuseadas pelo velejador até estarem no ângulo certo para que elas aproveitem a pressão e a propulsão do vento. As velas são, portanto, fundamentais para a devida propulsão ocorrer.

O leme é o que dá a direção ao barco. É ele que define para onde se quer ir, que corrige a rota e reposiciona o barco quando necessário.

E o velejador, além de usar a destreza para navegar, deve usar seu corpo sempre na posição certa, de maneira a ser contrapeso para o barco não virar.

Em um mar calmo e com ventos a favor, a navegação é suave e normalmente sob controle. Um barco a vela nessas condições, navega a contento, no silêncio, à exceção do barulho dos ventos e do mar, visto que não tem motor.

Quando o vento, ou o barco, muda de direção ficando contra o vento, é necessária uma destreza maior para garantir a navegação segura, mudando as velas no ângulo certo para que consiga a pressão necessária para mover o barco para frente.

Totalmente contra o vento é quase impossível, mas é possível navegar quase de encontro a ele. Essa forma de levar o barco é chamada de navegação à bolina ou cochado, e é feita mantendo a embarcação sempre cerca de 45 graus em relação ao vento contrário. Tudo, no entanto, é uma questão de como se posiciona a vela. Esse é um dos elementos fundamentais, principalmente em condições adversas.

Viver é uma aventura parecida com navegar em um barco a vela.

O mar e o vento representam os fatores externos, o mundo, o ambiente em que vivemos, com suas mudanças bruscas, desruptivas e inesperadas, que às vezes podem lhe ser favoráveis e outras, nem tanto.

Esses fatores estão fora da sua esfera de controle e domínio, mas pode aprender a lidar com eles.

O leme representa a sua meta, seus objetivos. É ele que irá direcionar o barco na direção pretendida – ao seu objetivo, ao seu propósito de vida. Sem ele, o barco fica à deriva, literalmente sem direção.

As velas são suas forças de caráter, suas forças pessoais. São seus recursos internos, sua força psicológica e também suas competências pessoais e profissionais. São elas que aguentam a pressão do vento, e são elas que movem a embarcação na direção que o leme apontar e conduzem à travessia.

Como atravessar esta turbulência e garantir a travessia?

Agarrando-se firmemente em nosso propósito de vida, em nossa rede de apoio emocional (família, amigos, espiritualidade) e em nossas forças pessoais.

É momento de relembrar quais são nossas metas e propósito, para ter direcionamento e manter uma perspectiva positiva de nossa trajetória de vida.

Não temos domínio sobre essa turbulência, mas podemos tomar atitudes corretas que nos ajudem a atravessá-la sem maiores dores. Com relação específica à nossa saúde e a de quem amamos, muitas dessas atitudes estão amplamente divulgadas nas mídias pelos órgãos de saúde competentes. É crucial seguir todas as recomendações.

Mas, e as velas?! Quais manejar em momentos de turbulência? Em outras palavras, quais são as forças de caráter que podem nos ajudar a atravessar esta turbulência?

Entre tantas forças necessárias e importantes, uma que se sobressai é a Esperança (também referida como otimismo). A esperança é uma força fundamental para melhorar nossa resiliência, necessária em momentos como este. Esperar o melhor do futuro e trabalhar para alcançá-lo, acreditando que algo bom poderá ser construído a partir e apesar das adversidades.

A esperança é o vento propulsor para esta travessia. É uma das cinco forças mais associadas com a sensação de satisfação a vida, pois gera sentimento positivo, otimismo, elevando nossa imunidade. Extremamente importante em face do Coronavirus.

Quando eu espero, do verbo esperançar, como diz o nosso admirável Professor Mario Sérgio Cortela, eu projeto uma visão de futuro positiva, e isso contribui para o fortalecimento de nossos pensamentos em torno daquela visão. Para quem acredita, isso auxilia na materialização daquilo que projetamos.

Desse ponto de vista, a esperança, ao contrário do que muitos acreditam, é ter um pé na realidade, visto que auxilia em sua co-criação de maneira positiva. Afinal, todas as possibilidades existem, já bem o dizem os matemáticos, portanto, co-criar algo positivo e bom, é possível.

A esperança é uma das forças da virtude Transcendência, que inclui forças que estabelecem conexões com o universo maior e fornecem significado.

Todos nós temos essa força, mas como eu a potencializo neste momento?

Visualizando e escrevendo sobre o quê de melhor poderá acontecer e ser feito no futuro próximo, traçando metas e objetivos, e revendo se elas estão alinhadas com seu propósito de vida. Observar a qualidade de seus pensamentos e focar, “turbinar” aqueles que são positivos e esperançosos, definindo quais caminhos podem ser trilhados para alcançar suas metas. Pensar em coisas positivas e boas que lhe aconteceram no passado, e em como você as superou. Identificar possíveis oportunidades e focar nelas.

Quais outras forças?

Criatividade, Pensamento Crítico e Perspectiva

são forças da virtude da Sabedoria e que neste momento, compõem com a Esperança as forças necessárias para esta travessia.

Criatividade é pensar maneiras novas e produtivas para conceber e realizar coisas. É encontrar soluções, alternativas e maneiras de fazer as coisas de maneira diferente para chegar ao resultado almejado. É ter ideias originais e aproveitar as oportunidades para implementá-las.

Estamos e enfrentaremos um momento de crise em vários setores, no entanto, sabemos que crise é oportunidade. É momento de usar nossa criatividade.

A Criatividade é uma das cinco habilidades essenciais do século XXI, juntamente com Pensamento Crítico, Colaboração e Comunicação. É ela, a Criatividade, que nos permite inovar, criar e co-criar.

Como potencializo o uso dessa força?

Desenvolvendo pensamento divergente, gerando múltiplas soluções e alternativas para os desafios do momento presente. Isto envolve buscar soluções por meio de múltiplas possibilidades.

Um exercício muito usado no mundo organizacional que ajuda no desenvolvimento da criatividade é o brainstorming, ou tempestade de ideias, onde você escreve todas as alternativas e possibilidades para solucionar o problema. A dica para este exercício é fazê-lo sem julgamento de certo ou errado, deixando as ideias fluírem. Daí o nome tempestade de ideias. Vale a pena fazer exercício!

Pensamento Crítico,

ou Discernimento, ou ainda Mente Aberta, é uma das cinco forças
mais endossadas e desejáveis no mundo. Ela significa analisar as situações por todos os ângulos, fazendo um exame racional e objetivo das nformações, sem ir direto para conclusões e principalmente, sem tirar conclusões precipitadas, algo que muito fazemos em momentos de crise, conduzidos pelas mídias e fake news.

Ter discernimento, senso crítico é também ser capaz de mudar de ideia diante de fatos, de evidências externas, de maneira analítica e imparcial.

Junto com a criatividade, é a possibilidade de encontrar saídas e soluções não observadas.

Não é à toa que Pensamento Crítico é também uma das habilidades essenciais deste século. E é hora de colocá-lo em prática!

Como potencializo o uso dessa força?

O pensamento crítico é uma sólida força da “mente”, portanto pode ser estimulado desafiando sua tendência natural e pessoal de emitir opiniões e tirar conclusões precipitadas. Uma maneira de potencializá-lo é portanto, desafiando suas conclusões, suas crenças e pontos de vistas, buscando informações contrárias de maneira a expandir sua visão e seu pensamento

Por fim e não menos importante, é momento de trazer à tona nossa Inteligência Social/Emocional, que significa estar cientes dos sentimentos de si e dos outros, saber o quê fazer para adaptar-se a diferentes situações, criando inclusive, resiliência neste momento de isolamento social.

Amor,

outra força fundamental para auxiliar-nos em comportamentos que demonstrem amor e zelo ao próximo, muito importante neste momento em que podemos e devemos cuidar e tomar medidas para proteger aqueles mais vulneráveis e com maior risco.

Autocontrole

é fundamental, afinal para muitos, ficar em casa e em isolamento social por
tempo ainda indefinido é algo muito difícil, se não impensável, independente estar ou não home office. Para muitos, este isolamento não é prazeroso e pode trazer velhos problemas domésticos e de convivência familiar à tona; portanto, o autocontrole é necessário para o bem-estar psicológico e evitar com que nos empanturremos de comida, de pensamentos negativos, de ansiedade.

Existem obviamente outras forças importantes, mas proponho a reflexão destas que se bem praticadas, criarão a resiliência necessária para atravessarmos este momento e o que quer que esteja por vir.

São tempos difíceis e turbulentos, mas ao olharmos para a evolução do homem, desde os primatas, vemos que nossos antepassados enfrentaram desafios também difíceis que à época provavelmente eram insuperáveis. Tiveram que dominar a fome, a falta de abrigo, pestes e enfermidades, e o enfrentamento de ameaças constantes que punham em risco a sobrevivência. E evoluímos. Temos em nossa genética a capacidade de superação.

E temos o conhecimento das forças de caráter.

Atravessaremos.

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